31 de janeiro de 2008

A arte de desenhar carrancas.

Giancarlo Alessandrini nasceu em 20 de março de 1950, em Jesi, província de Ancona , Itália. Começou sua carreira artística em 1972, no Corriere dei Ragazzi. Martin Mystère, seu principal trabalho, veio em 1982. É o criador gráfico, principal desenhista e capista oficial dos títulos de O Detetive do Impossível. Em 1992 o reconhecimento, recebeu o Yellow Kid, o Oscar dos Quadrinhos, como melhor desenhista italiano. Desenhou, em 2004, o 13º Dylan Dog Gigante (IL SENA NOME) e, em 2006, o 20º Texone (DESFILADEIRO DA COBIÇA – Tex Edição Gigante 18, da Mythos). Suas personagens têm as feições duras, grosseiras e sua arte é pesada. Eis uma breve biografia de Alessandrini.

Falta mencionar, porém, que, em 1977, foi o primeiro desenhista a substituir Ivo Milazzo em KEN PARKER. Já comentamos isso aqui, no entanto, o que não falamos foi do choque que os leitores do trapper levaram (pelo menos, comigo foi assim e com todos aqueles com quem converso a respeito) ao abrir as páginas de SANGUE NAS ESTRELAS. Acostumados com a arte limpa e traços leves de Milazzo, que em HOMICÍDIO EM WASHINGTON (KP 04) deslanchou de vez, aquele desenho Brucutu era uma ofensa. Com o tempo, fomos nos acostumando. Se o artista não agradava, agarrávamos à Berardi. Foi assim com Marraffa, Tarquínio e tantos outros. Até mesmo Trevisan, que estreou em A CIDADE QUENTE (KP 13), com todas aquelas hachuras, me incomodou a princípio.



Alessandrini desenhou mais cinco episódios de KEN PARKER: CAÇADA NO MAR (KP 09), RANCHERO! (KP 14), O EXPRESSO DE SANTA FÉ (KP 18), INCÊNDIO EM CHATTANOOGA (KP 22) e O CASO DE OLIVER PRICE (KP 28).



  • Este texto é uma singela homenagem ao nosso querido e saudoso OSCAR KERN (1935 – 2008), fã incondicional de Martin Mystère.

João Guilherme

30 de janeiro de 2008


Com números não se brinca!

A tragetória editorial de KEN PARKER também foi sofrível na Espanha. Aliás, em terras de Picasso, nosso herói foi desconsiderado. Vejamos, em setembro de 1982, a Ediciones Zinco SA, lançou LARGO FUSIL. Ao todo foram 17 números. A cronologia da primeira série italiana, fielmente, respeitada. Concluindo, a coleção espanhola chegou até o episódio A LONGA PISTA VERMELHA, certo? ERRADO!!! Foram publicados 17 volumes, em seqüência, e o último, distribuído em janeiro de 1984, foi BUTCH EL IMPLACABLE. Mais ou menos aquela história de que “dois e dois são cinco”. E o pior, no fim, provaram que 16 pode ser igual à 17. Explico.

Os 10 primeiros números de EL PARKER (a denominação é por minha conta e tem um excelente motivo) saíram, praticamente, no formato bonelliano, com o mesmo número de páginas e a qualidade do papel não ficava a dever.
Restrições: O logotipo não era o oficial e as capas, as piores que já vi.
Inéditas, segundo texto de Marco Gremignai, “Os Quadrinhos Bonelli na Espanha”,
para o site UBC fumetti, tradução do nosso Julio Schneider (
http://www.ubcfumetti.com/international/bonsp_po.htm). Foram publicadas as aventuras RIFLE COMPRIDO, MINE TOWN, OS CAVALHEIROS, HOMICÍDIO EM WASHINGTON, CHEMAKO, SANGUE NAS ESTRELAS, SOB O CÉU DO MÉXICO, GRANDE GOLPE EM SÃO FRANCISCO, CAÇADA NO MAR E TERRAS BRANCAS.

A partir do número 11, mudanças: No logotipo, no formato (24,5 X 17cms.) e no número de páginas, ap
enas 80. Cada episódio de KEN PARKER tem 95 páginas, assim, as histórias passaram a concluir na edição seguinte.

Para justifica
r minha tese, sou obrigado a uma demonstração nada agradável para um leitor que quer se divertir, mas não há outro jeito, portanto, em frente...

...KP 11 publicou 79 páginas de A NAÇÃO DOS HOMENS (95 – 79 = 16); KP 12 (16 páginas de A NAÇÃO DOS HOMENS + 63 de A BALADA DE PAT O’SHANE), KP 13 (32 de A BALADA DE...+ 47 de A CIDADE QUENTE), KP 14 (48 de A CIDADE...+ 31 de RANCHERO), KP 15 (64 de RANCHERO e 15 de HOMENS, ANIMAIS E HERÓIS), KP 16, as últimas 80 páginas de HOMENS, ANIMAIS E HERÓIS, certamente remontadas para 79. Essa edição saiu com o nome MAR DE HIERBA, equivalente ao capítulo VERDES CAMPOS (KP 15 – Tendência).

E dessa forma, BUTCH, O IMPLACÁVEL, perdeu a condição de número 16 e ficou sendo o 17 e, por ironia do destino, como publicaram somente 79 de suas páginas, 16 foram para o beleléu. Os números nunca mentem. Se somarmos 1 + 6, teremos 7. Mas essa é uma outra história...


  • As histórias IL RESPIRO E IL SOGNO e QUACK! Foram publicadas pela revista Cimoc, da Norma Editorial que, em 2003 e 2004, lançou, respectivamente, os álbuns LILY Y EL CAZADOR e HOGAR DULCE HOGAR.

João Guilherme

  • Fonte: KEN PARKER UN UOMO UNA LEGGENDA – Cronaca di Topolinia – Livro 4 – set/2001

29 de janeiro de 2008



*LAURA ZUCCHERI - 04/10/1971 - Natural de Budrio, Bolonha. Formada em desenho publicitário, trabalha para várias agências até o final de 1992, quando conhece Berardi e Milazzo. Muda-se para Chiavari, onde Milazzo tem seu estúdio. Com o Mestre inicia seu aprendizado na arte sequencial. Em 1996 já faz parte da equipe de KEN PARKER Magazine. Com Pasquele Frizenda realiza IL CONDANNATI, KP Speciale 1 (SBE - jul/1996). Hoje, trabalha com Berardi, desenhando JULIA. Comenta-se, a boca miúda, que é a sucessora de Milazzo. Laura, a única mulher a desenhar KEN PARKER.

28 de janeiro de 2008

Quando o tiro não sai pela culatra...

O que levava um editor a substituir a arte de Ivo Milazzo na capa de uma edição dedicada a KEN PARKER? Considerando a péssima qualidade de sua publicação (geralmente formatinho, papel jornal, histórias remontadas, sem seqüência...) e o custo operacional elevado para imprimir as aquarelas originais, o motivo era financeiro.
Talvez (sei lá se isso é possível?), conseqüência de um “pacote econômico”que pagava apenas os direitos aos episódios...Vai saber? Refiro-me às extintas revistinhas Long Rifle (francesa), Lunov Magnus Strip (iugoslava), Pistolero e Alaska (turcas) e Ken Parker (espanhola – Ediciones Zinco).

Mesmo assim, essas edições ridículas (não encontro outro adjetivo) chegam a ser disputadas por colecionadores, devido a sua estranha originalidade. É curioso (e divertido) colocar um exemplar de RIFLE COMPRIDO (Tendência) ao lado do Long Rifle 1 (Éditions Aventures et Voyages - Mon journal), onde um KEN PARKER, com o cabelo repartido ao meio, bigodes proeminentes, vestindo um casaco de couro castanho avermelhado, cavalga, velozmente, um ponney branco. A maioria dessas capas, eram inspiradas em desenhos de Milazzo, extraídos das histórias. E algumas, pasmem, são magníficas. É o caso da edição 9 da revistinha francesa, uma bela versão de um belo quadrinho do episódio CHEMAKO. Confiram, vale a pena.


Acima, arte de Milazzo e cores de Maurizio Mantero para CHEMAKO - Collana West 5.

Abaixo, capa de Long Rifle 9 - artista desconhecido.


João Guilherme

27 de janeiro de 2008

O KEN PARKER de Milazzo e Trevisan

Escrever sobre a série Collana West é tarefa das mais difíceis. Obra grandiosa, reune Giancarlo Berardi, Ivo Milazzo, Giorgio Trevisan, Renzo Calegari, Raffaele Ambrosio e ninguém mais que Paolo Eleuteri Serpieri.

Lançada em junho de 1983, a publicação da Edizioni L’Isola Trovata apresenta episódios de KEN PARKER , Welcome to Springville e Storie del West. A periodicidade é irregular e confusa (só em janeiro de 1985 foram lançados 03 volumes: HOMICÍDIO EM WASHINGTON, CHEMAKO E SOB O CÉU DO MÉXICO). O 31º episódio, UM HÁLITO DE GELO, data de junho de 1988. São 34 edições primorosas, medindo 22 X 28 cms., à cores e 03 especiais (UM PRÍNCIPE PARA NORMA, ONDE MORREM OS TITÃS E IL RESPIRO E IL SOGNO).

Da primeira série de KEN PARKER (Editoriale Cepim) foram escolhidas as histórias desenhadas por Milazzo e Trevisan. Devido o clássico formato francês as páginas foram remontadas (duas em uma) por Maurizio Mantero, também responsável pelas cores da maioria das aventuras. As capas são todas de Milazzo, inéditas, maravilhosas.

Relacionar os 25 episódios de Rifle Comprido, o número de páginas, a data de publicação seria enfadonho, preferimos apresentar todas as capas, na seqüência em que foram às bancas:





  • Os três primeiros números da série (RIFLE COMPRIDO, MINE TOWN e OS CAVALHEIROS), são publicados como suplementos da revista Orient Express. A 4ª edição (HOMICÍDIO EM WASHINGTON) já traz em seu expediente o título Collana West. O nº 10 (A CIDADE QUENTE) apresenta em sua capa o selo oficial da coleção.


  • Em 1983 só sai o número 1(medindo 23 X 29 cms.); em 1984, MINE TOWN. Ambos coloridos por Ivo Milazzo.


  • KP Collana West 12 (HOMENS, ANIMAIS E HERÓIS) traz em sua primeira página um desenho até então inédito, a figura de Pedrito, o Espertalhão (1951) de Antonio Terenghi. Devido o formato bonelliano, o quadrinho foi mutilado nas edições da Cepim e da Parker Editore (Serie Oro).

  • O episódio 31 (UM HÁLITO DE GELO) foi publicado, anteriormente, nas Comic Art 37 a 40. Cores de Milazzo.


  • Como sempre, uma falha: ADAH, uma das melhores histórias da saga de KEN PARKER, a preferida de Milazzo não consta da KP Collana West. O álbum cartonado do Gruppo Editoriale Lo Vecchio, dedicado à bela negra, lançado em dezembro de 1987, apenas um mês após a publicação da edição 27 da Collana West (A DOIS PASSOS DO PARAÍSO) é a única explicação plausível. ADAH seria a próxima história da lista. No entanto, em fevereiro de 1988, surge no número 28, OS PIONEIROS.





  • A série Welcome to Springville (Berardi-Calegari-Milazzo) foi publicada em suplementos dos números 03, 04 e 05 da Collana West. Os episódios de Storia del West desenhados por Eleuteri Serpieri constam dos números 09, 11, 13, 15, 17 e 19 da coleção.

João Guilherme

26 de janeiro de 2008





  • Adalfan da Silva, vulgo FAN, nasceu em 10/04/1988, na cidade de Fortaleza, Ceará, terra que ele afirma ser de "cabra macho e cachorro quente". Mora em Salvador - BA, é formado em quadrinhos pelo curso de quadrinhos oficinahq, é estudante de Design da Universidade Estadual da Bahia e é o criador do fanzine Morija. Desde guri sempre gostou de ler histórias em quadrinhos e com o passar do tempo passou a querer criar esse mundo de fantasias...
    Essa vontade, aliada a muita criação, levou a vários resultados e um desses vocês podem ver agora.
    É meu amigo, e me presenteou no meu aniversário, com essa bela arte, que pintou com lápis de cor, pasmem!!


Lucas Pimenta

25 de janeiro de 2008

"LAR, DOCE LAR"

Uma história de dor, desencontros e morte, mas também de redenção.

Publicado pela primeira vez em 1977, KEN PARKER trazia os argumentos de Giancarlo Berardi e os excelentes desenhos de Ivo Milazzo. Rapidamente este western tornou-se um quadrinho “cult” graças ao enfoque humanista dado por seus autores. É que o protagonista diferia totalmente do herói típico das histórias de caubóis. Para começar, ele era uma mistura de scout e caçador que nem sequer carregava um Colt. Isso aí, sua arma era um Flintlock modelo 1803, daqueles que se carrega pelo cano e deixa um buraco daqueles. Um fuzil anacrônico, vamos convir, que não lhe impediu de se envolver em tiroteios monumentais, bem ilustrados pelo traço leve, sintético e altamente estilizado de Milazzo. Com um certo ar intelectual e a aparência física emprestada do ator Robert Redford, KEN PARKER posicionou-se ao lado do Tenente Blueberry como as maiores contribuições das histórias em quadrinhos ao mito do faroeste.




Como fã de histórias de caubóis, tenho que confessar que aprendi a admirar o trabalho arguto e equilibrado da dupla Berardi e Milazzo nas histórias de KEN PARKER. Não é uma tarefa fácil já que os enredos brilhantes e cheios de humanidade do primeiro são muitas vezes ofuscados pelo traço nervoso do grande Ivo Milazzo, para mim um dos grandes das histórias em quadrinhos ao lado do incomparável Alex Toth. E é que sua linha fina e muitas vezes incompleta e nervosa que se alterna com grandes pinceladas de preto não é aceita por aqueles leitores que se acostumaram a um desenho mais certinho como o de Civita ou de Ortiz, só para citar alguns dos mestres do gênero. Não, o traço de Milazzo exige que o leitor complete a cena com a imaginação, numa releitura que exige muito conhecimento das técnicas cinematográficas e do western como universo narrativo.


Dito isto, tenho que admitir que tive grandes problemas em escolher “LAR, DOCE LAR” como aquela que é, para mim, a melhor história da dupla. Porque na escolha tive que descartar narrativas maravilhosas como “UM PRINCÍPE PARA NORMA”, “UM HÁLITO DE GELO”, “HOMENS ANIMAIS E HERÓIS”, “UM HOMEM INÚTIL”, “CHEMAKO”, “ADAH”, “SOB O CÉU DO MÉXICO”, “LILY E O CAÇADOR”, “AVENTURA HUMANA” e “TERRA DOS HÉROIS”, entre outros.


A história começa com nosso herói, o rastreador do exército melhor conhecido pela alcunha de “Rifle Comprido”, voltando para Buffalo, sua cidade natal, após passar pelo lugar onde oito anos atrás seu irmão fora escalpelado. Ao mesmo tempo, outro homem vindo de Rapid City, Dakota do Sul, também cavalga em direção a Buffalo. Este homem, Dick Eliot, é um pistoleiro que está fugindo de antigos companheiros de trapaças aos que deixou a ver navios depois de ter ficado com o dinheiro do assalto a um banco.
A partir desse momento, como num bom drama shakesperiano, as histórias se entrelaçam, pois acabamos sabendo que Eliot e PARKER, que foram companheiros de infância e de adolescência, saíram da cidade na mesma época, embora por razões diferentes como descobriremos mais adiante. KEN chega à casa dos pais e é recebido com amor. As cenas são marcantes como poucas, sem cair na pieguice, recurso fácil numa história de reencontros como esta. Os diálogos curtos, os olhares e as mãos que se entrelaçam ternamente dizem tudo sobre aquele momento, matizado pelos pequenos detalhes que não escapam ao olhar dum leitor mais observador.





Em contraposição, a chegada de Dick ao lar paterno é marcada pelas recriminações e a severidade do pai disciplinador, um reverendo por sinal, incapaz de abraçar o filho ou de dar-lhe um pouco de carinho. Velhas rusgas afloram rapidamente e, depois de um diálogo explosivo, Dick decide encurtar sua visita.

Já de saída, acaba se encontrando com KEN PARKER e ambos decidem lembrar um pouco dos velhos tempos diante de um copo de cerveja. É nesse diálogo que descobrimos que PARKER e Elliot disputaram na juventude o amor de uma garota de nome Lena Kolbe. Naquela época, Lena escolhera Elliot e coube ao jovem KEN acompanhar de perto o desenvolvimento daquele romance. É quando, ao perguntar-se ambos o que teria sido de Lena, o garçom interrompe a conversa para dizê-lhes que Lena Kolbe pode ser encontrada no bairro da luz vermelha. Os dois amigos vão até a casa dela e a mulher ao vê-los tenta disfarçar sua condição atual. Mas o esforço se revela inútil, já que eles sabem que ela é agora uma prostituta.





Descobrimos, então, que Lena ficara grávida de Elliot e, depois de perder o pai, fora obrigada pelas convenções sociais da época a se prostituir para conseguir sobreviver. Elliot argumenta que ele não sabia de nada, nem sequer que ele tem um filho com oito anos de idade.

É um diálogo amargo e ríspido em que Lena o responsabiliza por sua atual situação. Nesse momento, o garoto acorda e aparece na sala. PARKER fica comovido com a criança e brinca um pouco com ela. Então aparece o gigolô de Lena que rapidamente entende o que está acontecendo e observa que se Elliot quiser ficar com a mulher terá que pagar. Então, movido à raiva, Dick espanca o homem. Depois que este vai embora, Lena o recrimina por ter agido dessa forma já que vai sobrar para ela. Mas Elliot lhe diz que sua vida vai mudar e que a partir desse momento tomará conta dela e da criança. Ainda lhe pede que arrume suas coisas para sair daí quando ele voltar com uma carroça. Ambos se beijam e Lena acredita, com lágrimas nos olhos, que aconteceu um milagre.

Mas a realidade cruel fica já evidente quando, longe de Lena, Elliot confessa a PARKER que ele não tem a mínima intenção de constituir família. Se acaso a levará para outra cidade onde a visitará de tempos em tempos, entre uma trapaça e outra. Nesse momento ambos são cercados pelos antigos parceiros do pistoleiro e levados para fora da cidade.





Numa caverna o antigo parceiro interroga Elliot sobre o dinheiro que ele levou e PARKER associa os detalhes ao assalto a um banco em que, meses atrás, um caixa morrera. Elliot ri e diz que gastou tudo ante o olhar incrédulo do ex-cúmplice que, obviamente, não acredita. Então, e diante da possibilidade de ser torturado, Dick propõe que PARKER saia à procura do dinheiro e lhe indica um esconderijo da época em que eram crianças. PARKER, enfiado naquela arapuca a contragosto, topa. Quando parte, o chefe do grupo orienta um de seus comandados para segui-lo e, depois de este ter encontrado o dinheiro, acabar com ele.

Neste momento a trama se bifurca, mostrando quase simultaneamente KEN PARKER sendo seguido pelo malfeitor e Lena arrumando seus pertences enquanto o garoto confessa para a mãe que sempre teve medo quando ela saia para fazer limpezas noturnas. Valendo-se de sua experiência como batedor do exército, PARKER engana seu perseguidor e o surpreende. Ambos rolam pelo chão numa luta a morte enquanto Lena ouve alguém batendo à porta e vai abrir, pensando que é Dick Elliot, dando de cara com o gigolô. No momento em que PARKER enterra uma faca no peito do facínora, Lena é morta e ficamos sabendo disso pelo rosto aterrorizado do garoto. É, talvez, o momento supremo da história, conduzida magistralmente por um mestre da narrativa visual, mas ela não acaba aí.




PARKER volta à caverna e, depois de procurar muito, encontra outro acesso à mesma que ele e Elliot utilizavam quando eram crianças. Entrando pelo buraco na pedra surpreende o bando pela retaguarda. Na troca de tiros morrem os três pistoleiros e Elliot fica gravemente ferido. PARKER ainda se oferece para levá-lo ao médico, mas ele se recusa sabendo que tem pouco tempo de vida e ambos se separam, um em direção a Buffalo e o outro, sabendo que a vida lhe escapa das mãos, à procura de um lugar para morrer. Elliot ainda encontrará seu fim nas mãos de um detetive da agência Pinkerton que se encontra no seu encalço enquanto PARKER ao chegar à cidade se inteira pelo xerife da morte de Lena. Quando o representante da lei comenta que não sabe o que fazer com a criança, PARKER observa que ele conhece alguns familiares que eventualmente poderão tomar conta dela. Assim, o agora órfão Benji encontra um lar e o reverendo Elliot uma nova chance de criar um menino, tentando não repetir os erros do passado. É ou não uma boa história?


Mario Latino

Mário Latino nasceu na Nicarágua e reside no Alto Tietê – SP. Edita a revista GrapHiQ desde 1998. Autor dos personagens Waytt Apple e Agente Secreto 000125 já divulgou sua sensacional HQ “O Bom, os Maus e os Feios”.

Mário possui um site onde divulga, diariamente, suas tiras.

http://www.graphiqbrasil.com/php/main.php

KENPARKERBlog

24 de janeiro de 2008

Quando o faroeste derruba barreiras

Prá começar esse texto vou falar de como (e por que) a HQ de Berardi e Millazo se diferencia dos outros faroestes, principalmente nos quadrinhos.

Como todo bom fã de Tex, eu não tenho nenhum problema com os faroestes convencionais, às vezes até fico irritado quando os autores mudam o ambiente, pois acho que descaracteriza os personagens e o tema.

Mas KEN PARKER é diferente.

Berardi, com suas tramas inteligentes e simples, cria todo um universo que ao mesmo tempo é fantástico e realista, homenageando literatura, cinema, teatro e os próprios quadrinhos, seu trabalho será sempre eterno.

Sem falar de Millazo, com seus traços simples e ao mesmo tempo sofisticados, ele constrói espaços criativos, diferentes e até mesmo insanos, dando liberdade ao leitor, e ao mesmo tempo sem atrapalhar os roteiros de Berardi. Com certeza Millazo é melhor desenhista do que Berardi é roteirista.

KEN PARKER é aceito até por quem não gosta de fumettis, todos os especialistas em quadrinhos nacionais e internacionais admitem a sua grandiosidade, e com certeza, se virasse um filme fiel à série, teria o mesmo prestígio de obras de gênios como Clint Eastwood e Sergio Leone.

Por esses e outros motivos que é impossível incluir KEN PARKER em qualquer lista de quadrinhos, pois ele sempre alcançará o primeiro lugar, tirando a oportunidade de outras HQs terem o seu merecido prestígio.


Mateus Albuquerque.


  • O texto acima é da inteira responsabilidade do Sr. MATEUS ALBUQUERQUE. Cearense de nascença, mora em Salvador - BA -, e fã de faroeste . No momento é meu "irmão caçula" a quem vou ensinando a gostar do bom quadrinho, como esse artigo já mostra e é meu estagiário no curso de quadrinhos "Oficinahq". Sonha ser jornalista, já tem 12 anos e se auto-denomina muito chato (?). Eu diria, ousado.

    EM TEMPO: O Mateus escrevendo e o John Lucas desenhando...a idéia está lançada. Se o tema for nosso scout, divulgamos.

Lucas Pimenta.




KENPARKERBlog

23 de janeiro de 2008

Scotty Long Rifle

KEN PARKER surge na França em 1978, nas páginas da revista Long Rifle – Éditions Aventures Et Voyages (Mon Journal). A publicação, de péssima qualidade, mede 17,8 X 13 cms. Outros personagens bonellianos (Judas, Gil, Lupo Bianco...) dividem as 130 páginas com nosso herói, rebatizado de Scotty Long Rifle. As histórias, remontadas, raramente se concluem numa edição.
As capas nem sempre são dedicadas a Rifle Comprido. Algumas são originais de Milazzo; outras, trabalhos de artistas franceses. A série dura até 1987, 108 números são lançados. Só servem como ítens de colecionador, embora algumas capas sejam interessantes.

A segunda aparição de KEN PARKER em terras francesas, no entanto, resgata a dignidade do herói. A Soleil Editions, em 1992, lança dois álbuns cartonados, medindo 29,5 X 23 cms, papel de alta qualidade, com as histórias HOMICÍDIO EM WASHINGTON e CHEMAKO. São as mesmas versões apresentadas na KP Collana West. Um terceiro volume é anunciado, mas não acontece. As capas são de Ivo Milazzo, inéditas. Me atrevo a considerá-las as melhores edições de KEN PARKER, até hoje.





Em 2003 e 2004, simultaneamente, a Lizard Edizioni (italiana), a Edições Asa (portuguesa), a Norma Editorial (espanhola) e a Ligne D’Ombre (francesa) lançam os álbuns LILY E O CAÇADOR e LAR DOCE LAR, cartonados, 23 X 30 cms., 104 páginas. O retorno de KEN à casa paterna tem as cores de Marco Soldi, capista oficial de Júlia. Já o colorista de LILY...não tem seu nome revelado. Seu trabalho é pesado, predominando tons marrons. Um trabalho inferior ao de Maurizio Mantero, na versão publicada pela KP Collana West. As capas, artes inéditas de Ivo Milazzo.
  • Fonte: KEN PARKER – Un Uomo Una Leggenda – Cronaca di Topolinia – Livro Especial 4 – set/2001

João Guilherme

22 de janeiro de 2008

KEN PARKER na Turquia

Os turcos insistiram com Rifle Comprido. Foram várias séries. Oito.
Mas muito pouco se publicou, considerando a cronologia do herói.
A estréia foi na revista Pistolero, da editora Hasal Yayinlari. De agosto a novembro de 1981, foram lançados os episódios HOMICÍDIO EM WASHINGTON, CHEMAKO, GRANDE GOLPE EM SÃO FRANCISCO e CAÇADA NO MAR (os três últimos em versões incompletas). KEN PARKER recebe o nome de Skot Long Uzun Namlu, provavelmente devido à série francesa (uma outra história).

Em 1982, a editora Tay Yayinlari que publica outros títulos bonellianos, dedica uma revista ao scout. Mas, devido o momento político (junta militar), evita as histórias sobre o western clássico e apresenta CAÇADA NO MAR e TERRAS BRANCAS em seu primeiro número. A NAÇÃO DOS HOMENS aparece na edição seguinte. Talvez, por esse motivo, a revista traga o nome Alaska. Ao todo, foram 40 episódios (18,5 X 13 cms.), mas sem obedecer ordem cronológica e as capas são trabalhos de artistas locais. A Tay Yayinlari lança uma segunda série de Alaska. As características, as mesmas. Dessa vez são 21 números (a numeração começa do 01), 15 histórias são inéditas e seis republicações.
Dois anos depois, Alaska retorna uma terceira vez. Cinco episódios. Todos publicados nas séries precedentes.

Outubro de 1999, depois de vários anos, a Itahaki Yayinlari lança um álbum em grande formato e ótima qualidade, com a aventura O SELVAGEM, extraído da KEN PARKER Magazine (Parker Editore), capa original de Milazzo.

Um novo título, agora da Aksoy Yayincilik, surge em janeiro de 2000. São quatro episódios CRÔNICAS, O POETA, ÓDIO ANTIGO e A VERDADE, formato e características similares àqueles da Editoriale Cepin (1ª série italiana). As capas são as originais, mas com fundo colorido.

KEN PARKER, da Parantez Yayincilik. A partir de julho de 2000, essa série tem o formato italiano, as capas de Milazzo e obedece a seqüência original.
São idênticos aos exemplares da Serie Oro. Foram 12 números e três especiais com mais de 400 páginas.

A editora Kitap Rodeo dá continuação ao trabalho da Parantez, mas publica só mais 9 números e 8 álbuns.


  • Informações extraídas do livro KEN PARKER UM UOMO UMA LEGGENDA – Cronaca di Topolinia – Special 4 - set/2001




João Guilherme

21 de janeiro de 2008

KEN PARKERBlog foi pensado para inovar. Nunca foi nossa intenção reapresentar as biografias de Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo. Tampouco a cronologia de Rifle Comprido, a relação dos seus amigos, as dez melhores histórias, as piores capas e quais editoras publicaram nosso herói na Itália, no Brasil e em outros países. Tudo isso já foi feito e com muita competência por sites especializados do mundo todo. E todos sabemos onde encontrá-los. Acabaremos por trazer todos esses dados, mas de um modo bem informal, indiretamente. Queremos explorar o mundo de KEN PARKER. Um mundo que, editorialmente, já não existe há muito, afinal, FACCIA DI RAME, sua última aventura (que não obedece ordem cronológica) foi publicada em janeiro de 1998, exatos dez anos. Se agirmos como informativo, no máximo, em três meses não teremos utilidade. E viemos para ficar. Porque KEN PARKER ficará para sempre. Preso. Dentro de nós, kenparkerianos. Matérias como DIREITO E AVESSO, uma história verídica, COMO APAGAR ESTRELAS, QUANDO O MESTRE TREME serão uma constante. Não para denegrir, mas para mostrar situações, curiosidades e fatos que ocorreram nesses 30 anos. E queremos a sua participação. Discordando, divulgando sua arte, seu conhecimento sobre a série, suas observações. Façamos aqui um ponto de encontro. Nossa casa, para discutirmos e homenagearmos Rifle Comprido.


KENPARKERBlog


O caso da arte de Milazzo inédita na Itália

E todo esse blá, blá, blá tem seu porque: Uma revelação, no mínimo, interessante. Trata-se do caso da capa de O CASO DE OLIVER PRICE (KP 28). Na Itália, berço de Giancarlo Berardi, Ivo Milazzo e Rifle Comprido, a capa da edição supra-citada jamais foi publicada na íntegra. Na edição da Editoriale Cepim (mar-abr/1980) a quarta capa apresenta a propaganda do álbum O HOMEM DAS FILIPINAS, 27º volume da série Um Homem Uma Aventura, da mesma editora. A Parker Editore, quando relançou o episódio (ago/1991), na KEN PARKER Serie Oro, aproveitou a última capa para divulgar o número 1 da sua KEN PARKER Magazine. A Panini só aproveitou a arte de Milazzo na primeira capa da KEN PARKER Collection e, a aventura em questão, foi publicada junto com LAR DOCE LAR, na 14ª edição. O livro Lungo Fucile (Gisello Puddu – Mauro Giordani), Editoriale Mercury, traz a seguinte nota, “O desenho por inteiro está reproduzido no capítulo 4 do presente livro: Ivo Milazzo – biografia e perfil artístico”(pgs.152). No Brasil, a Editora Vecchi solucionou o problema imprimindo o mesmo desenho nas duas capas. Mas onde entra a tal revelação interessante? Na Coleção KEN PARKER, da Tendência/Tapejara (2000-2006). Toda a aquarela para o episódio O CASO DE OLIVER PRICE, está no número 28 do CLUQ, a única edição no mundo a divulgar o trabalho completo de Milazzo.






Não creio que a Turquia, outro país que deu (ou dá) bastante espaço para nosso herói, tire esse recorde de Wagner Augusto.

*Das primeiras 59 capas de KEN PARKER, apenas seis Milazzo não realizou por inteiro. São: O MAGNÍFICO PISTOLEIRO (KP 29), ASSALTO NA REGINALD STREET (KP 55), A PROPÓSITO DE JÓIAS E TRAPAÇAS (KP 56), O SICÁRIO (KP 57), GREVE (KP 58) e OS GAROTOS DE DONOVAN (KP 59).

**BOSTON (KP 54), edição da Cepim divulga em sua quarta capa A BALADA DE PAT O’SHANE, álbum cartonado da Arnaldo Mondadori Editore.

***A KEN PARKER Serie Oro (Parker Editore) apresenta toda a arte do Mestre. O mesmo faz a publicação tupiniquim do CLUQ.





João Guilherme

19 de janeiro de 2008

Barnum. Oake Barnum, agente da Pinkerton!


15 de setembro de 1870. Um ex-capitão confederado e um terrorista impiedoso atacam o trem que faz a linha Cheyenne – Omaha. Objetivos: assassinar o general Praser, em nome da causa Sul Livre e roubar trinta mil dólares. Na composição está KEN PARKER que viaja até Washington ao encontro de Ely Donehogawa, Comissário para os Assuntos Indígenas (KP 02 – OS CAVALHEIROS – Tendência). Com o general, sua sobrinha, Julie Praser, mas essa é uma outra história.

Na saga de Rifle Comprido, Berardi abordou todos os tipos humanos: Velhos ranzinzas, brutamontes abobados, políticos corruptos, prostitutas carentes, poderosos ditadores, homossexuais, negros e pobres marginalizados, jovens idealistas, padres descrentes, posseiros de-sesperançados, covardes, loucos, mulheres solitárias, obstinados, perversos, guerreiros alucinados, excepcionais e os chamados chatos.

Oake Barnum. Baixinho, gorducho, terno xadrez espalhafatoso, chapéu coco, bigodes e um inseparável charuto fumegando nos lábios. Desajeitado, medroso, inconveniente, sovina, mas com seus momentos de glória, afinal, trata-se de um agente da Pinkerton. Isso mesmo, Barnum faz parte da Agência Nacional de Detetives Pinkerton, fundada em 1850, nos Estados Unidos da América, por Allan Pinkerton, detetive famoso por impedir uma tentativa de assassinar Abraham Lincoln. A Pinkerton se ocupava, principalmente, de grevistas e suas tentativas de invasão das fábricas, mas, também, caçou foras-da-lei famosos. Jesse James,
Butch Cassidy e Sundance Kid estão entre eles. O logotipo da agência era um olho circundado pela frase WE NEVER SLEEP (Nós nunca dormimos).

Oake Barnum estava naquele trem. E a confusão começa para nosso herói quando o detetive esconde seu distintivo na bolsa do scout. Mas, apesar de suas trapalhadas, ajuda KEN a caçar os bandidos e resgatar Julie que fora seqüestrada. No final, ficam amigos.

Em HOMICÍDIO EM WASHINGTON (KP 04), Barnum, com a ajuda do general Praser, livra Rifle Comprido da acusação do assassinato de Donehogawa.
Julie, a sobrinha do general, também aparece nesse episódio, mas, como já disse, essa é outra história.



João Guilherme

18 de janeiro de 2008

Uma obra-prima para Norma

O furação Marilyn Monroe. A mulher mais cobiçada do século XX. Sinônimo de beleza, sensualidade e glamour. A deusa máxima das telas, morreu vítima de overdose de sedativos e barbitúricos, aos 36 anos, envolvida em escândalos e solidão. Sua morte, um mistério. Acidente? Suicídio? Assassinato? Não existem provas concretas. Só suposições. O mito morreu em conseqüência de uma vida infeliz. A vida de Norma Jean Baker Mortenson. Filha de pai desconhecido, mãe com problemas psicológicos, viveu parte de sua infância em orfanatos e casas de família. Norma Jean era sonhadora, vulnerável, inocente. E é esse seu lado frágil, humano que Berardi explora em UM PRÍNCIPE PARA NORMA, com toda a sua competência. Os desenhos são de Ivo Milazzo e Giorgio Trevisan (Hamlet). A genialidade de Milazzo capturou sua alma, suas expressões , seus olhares lânguidos e, às vezes, distantes. A página a seguir é um momento mágico dessa aventura chamada KEN PARKER.




“O que trago em mim ninguém vê, trago belos pensamentos que
pesam como uma lápide, eu suplico façam-me falar.”


Norma Jean M.

  • Tradução de Julio Schneider para a edição do CLUQ.

João Guilherme