2 de janeiro de 2008

PAIXÃO PARA NINGUÉM BOTAR DEFEITO!

A paixão não tem idade. É para jovens de todas as idades. Interessante como certas frases feitas combinam direitinho com certas situações, especialmente quando se adentra o mundo maravilhoso das Histórias em Quadrinhos. KEN PARKER foi criado por dois jovens genoveses com seus vinte e poucos anos de idade que decidiram direcionar seus talentos artísticos para os gibis e, de caso pensado ou não, revolucionaram a forma de contar histórias por imagens seqüenciais. Um pouco com a bagagem cultural de jovens contestadores dos efervescentes anos 60 e um pouco com o desejo de contar aventuras de um jeito diferente do que se via, o fato é que os hoje (quase) sessentões entraram para a História como autores revolucionários. E, embora não admitam e sintam-se até um pouco constrangidos e muito emocionados quando ouvem isso, tornaram-se autores cultuados. Ao contar e cantar os feitos de Rifle Comprido, Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo colocaram a alma nos textos e nos desenhos, de início a alma de autores com menos de trinta e depois a alma de cinqüentões. A única coisa que mudou de idade foi o corpo físico, porque a alma e o estilo de narrar mantiveram-se sempre os mesmos, sempre elevados. Tanto foi colocado de alma e paixão que nós, jovens leitores dos 8 aos 80, sentimos isso e nos identificamos com o personagem e vivemos com ele suas aventuras, seus problemas, seus amores, suas decepções... e a sua dor, engaiolados com ele numa prisão de onde talvez nunca mais saia. E ele está preso por amor. Sim, pelo amor de seu criador. A publicação de KP já foi interrompida na Itália duas vezes e em ambas o herói saiu de cena sem que sua saga fosse concluída, ele partiu de repente e nos deixou órfãos, curiosos e ansiosos: "e agora, como ele vai se safar dessa?". As duas interrupções foram abruptas, justificadas pelo "simples" fato de que o número de leitores era insuficiente para cobrir os custos de sua publicação. E insistir seria dar um tiro no pé, seria queimar dinheiro - o que, além de ser sintoma de loucura, é crime. Assim como nós, leitores, Berardi gostaria muito que seu filho predileto saísse da prisão, vivesse as aventuras que ainda tem direito a viver, até achar um cantinho para se recostar e ter seu Happy End. Mas depois de duas mortes editoriais, Berardi não quer que seu rebento morra no meio do caminho pela terceira vez, ele não quer recomeçar a contar as histórias e, depois de duas ou três edições, ter que ouvir o editor dizer "Pode parar por aí, está dando prejuízo". Seria uma violência e uma falta de respeito com o personagem, com os autores e - principalmente - com os leitores. A única forma de KEN PARKER nos contar o fim de sua saga é que algum editor iluminado (e muito, mas muito corajoso, suficientemente maluco e desprendido com relação a dinheiro) diga aos autores: "Vão fundo. Escrevam as histórias que faltam. Não me interessa se isso vai levar um, três, dez volumes. Mesmo que cada edição venda 5 exemplares, eu torro a grana, banco os prejuízos e publico até o fim". Alguém se habilita? Enquanto isso não acontece, vamos matando a saudade relendo à exaustão as histórias que existem, vamos imaginando como seriam as novas aventuras e vamos compartilhando a nossa paixão com outros "malucos saudáveis" como nós. E como João Guilherme e Lucas, os idealizadores deste blog. Dois jovens de gerações diferentes e que conheceram KEN PARKER em momentos distintos mas que têm a mesma idade espiritual indefinida que todo apreciador de bons quadrinhos tem. E a mesma paixão pelo herói: o "velhinho" João Guilherme conhece KEN PARKER desde sua primeira aparição no Brasil, pela Editora Vecchi, e quando o "jovenzinho" Lucas nasceu, essa série já havia sido interrompida. E aqui estão os dois, juntos mantendo viva a alma do personagem com o blog KEN PARKER. Do "nosso" KEN, porque todos nos consideramos partícipes da sua vida. So long, KEN! So long?! Que nada... até breve.
Julio Schneider
  • Advogado, tradutor e um dos maiores colecionadores de quadrinhos, Julio Schneider, nas fotos: com Julia e Berardi, no 5º FIQ; em sua gibiteca - “ala kenparkeriana” e com Milazzo, em Chiavari, na região de Gênova.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo, interessante e sentido texto do Grande Júlio Schneider!!!!
E um pormenor que me deliciou... uma das fotos foi tirada por mim, se bem que com a máquina do Júlio... falo da foto de Chiavari, foto que me trouxe (tal como o texto) maravilhosas recordações!
Parabéns ao blog KEN PARKER que já está fazendo furor na Web!!!!
E usando as palavras do Júlio, a quem peço humildemente desculpa por tal, digo "So long?! Que nada... até breve".
Zeca

Anônimo disse...

Li o post lá no GibiHq... e vim logo conferir...belo trabalho de vcs., já tá no meus Favoritos...e já vou divulgar pros fãs de Fumetti aqui de Natal-RN...Boa sorte!!!